Ignorar Comandos do Friso
Saltar para o conteúdo principal

Skip Navigation LinksEntrevista-E-fundamental-que-a-ciencia,-a-tecnologia-e-a-inovacao-estejam-presentes-nas-escolas-e-no-espaco-publico

ENTREVISTA | “É fundamental que a ciência, a tecnologia e a inovação estejam presentes nas escolas e no espaço público” Notícias

29/09/2020

Atrair cientistas estrangeiros para Oeiras; fazer com que a ciência seja parte do dia-a-dia das pessoas e entidades do município; promover uma maior interligação entre as instituições de investigação e o ecossistema empresarial do concelho. Estes são alguns dos objetivos da Câmara Municipal de Oeiras com a criação da "Estratégia Oeiras Ciência e Tecnologia 2020-2025". Pedro Patacho, Vereador do Município, com o pelouro da Educação e da Agenda para a Ciência e Inovação, explica em entrevista em que consiste esta estratégia e quais as ações que o Município está a desenvolver para transformar Oeiras na Capital da Ciência e Inovação.

 

Oeiras tem a ambição de tornar-se na Capital da Ciência e da Inovação. Como se materializa este objetivo?

Termos uma agenda estratégica para a ciência e para a tecnologia e inovação. É uma consequência natural porque atualmente já somos, em muitos indicadores, o Município mais relevante do país.

Por exemplo, em Oeiras temos aproximadamente 25 mil empresas instaladas, que geram anualmente mais de 25 mil milhões de euros de volume de negócios. E quando a média nacional ronda os 19% de pessoas licenciadas, em Oeiras há bastante tempo que ultrapassamos os 30% de pessoas licenciadas. Temos uma população altamente qualificada que vive ou trabalha aqui.

O resultado disto só poderia ser a criação de uma estratégia concertada, aglutinadora, que capitalizasse tudo isto num diálogo forte com a sociedade civil, com as empresas, com as universidades, com as instituições do nosso território.

 

O que será necessário fazer para tornar Oeiras na Capital da Ciência e da Inovação?

Há três aspetos muito importantes. Primeiro, é necessário que a ciência, a tecnologia e a inovação estejam presentes nas escolas, no espaço público, nos eventos culturais. O segundo aspeto tem a ver com a necessidade de criar condições para que os trabalhos na área de inovação e de criação de valor a partir do conhecimento científico que é produzido aqui crie condições para que essa inovação floresça cresça e se afirme, se desenvolva com maior velocidade e com maior impacto na criação de riqueza. E um terceiro fator, também muito importante, é que tudo isso seja feito de forma a projetar internacionalmente o concelho como um espaço atrativo e relevante.

 

De onde surgiu a inspiração para criar a estratégia Oeiras Ciência e Tecnologia?

Analisámos várias cidades do mundo que fizeram percursos semelhantes, nos últimos 25 a 30 anos. Em comum têm o facto de serem locais com uma grande presença de universidades, empresas de base científica e tecnológica e que capitalizaram esse modelo para se afirmarem, com base numa estratégia territorial ancorada na ciência, na tecnologia e na inovação.

Vimos vários exemplos de cidades e regiões que fizeram este movimento. Por exemplo, na Flandres, na Bélgica, uma entidade muito conhecida que é o VIP, que há cerca de 25 anos começou um movimento – muito semelhante àquele que Oeiras está a fazer – impulsionado pelo governo local e pelas entidades públicas locais. Eles estiveram cá connosco, com o Instituto Gulbenkian da Ciência, com o Instituto de Tecnologia Química e Biológica António Xavier (ITQB), com várias outras instituições e partilharam connosco a forma como tinha decorrido o seu processo na Flandres, que dificuldades encontram e que recomendações nos poderiam deixar.

 

A estratégia Oeiras Ciência e Tecnologia é um plano com um prazo de cinco anos. Quando chegar a 2025, que resultados gostaria de ter atingido com a implementação desta estratégia?

Aquilo que mais gostaríamos de observar, chegados a 2025, seria ver as nossas escolas cheias de oportunidades de ensino das ciências "hands on" com "inquiry-based learning", com os professores totalmente envolvidos nestas dinâmicas. Gostaria de ver a ciência nas salas de aula, nos pátios da escola, com múltiplas oportunidades para os alunos sonharem, imaginarem, serem criativos, ousarem perseguir carreiras no mundo da ciência, da engenharia, da tecnologia e da inovação e quererem descobrir o mundo.

Nos eventos da Câmara Municipal gostaria de ver uma divulgação imensa de oportunidades de comunicação de ciência para todos os cidadãos, para as pessoas perceberem o quão a ciência está embrenhada nas nossas vidas, naquilo que comemos, no que vestimos, nas decisões que tomamos, na tecnologia que utilizamos.

Gostava também de ver mais universidades no nosso concelho e que à nossa volta houvesse mais ligações das universidades com o nosso território; que existissem mais centros de investigação a quererem sedear-se nesta rede.

 

Permanece ainda uma ideia pré-concebida de que a ciência e o trabalho feito pelos investigadores pertencem a uma realidade diferente, que está inalcançável para o cidadão comum. Como se pode aproximar mais a ciência da sociedade civil?

É muito curioso estar a dizer isso porque o grande programa âncora que materializa o primeiro eixo de ação da nossa agenda para a ciência chama-se, precisamente, "Ciência Aberta a Oeiras".

Este programa parte da constatação de que ainda existe muito a ideia estereotipada de que a ciência é uma coisa distante, feita por pessoas um pouco desfasadas do mundo, que são muito inteligentes e conseguem fazer umas coisas extraordinárias. Não é nada assim. Há, aliás, um movimento no setor da educação, a nível internacional, para desmistificar essa ideia.

Mas isso não é importante só no setor da educação, mas também na sociedade e na vida das pessoas. Porque os cientistas são pessoas como todas as outras, têm vidas como todos os outros, não vivem isolados porque trabalham em equipa na maior parte das vezes e o empreendimento científico é, na verdade, um empreendimento humano e está ao alcance de qualquer um. É necessário aproximar as instituições científicas da cidadania, aproximar os cientistas das pessoas, criar oportunidades de relação e desmistificar essa ideia, fazendo as pessoas – principalmente os mais novos – entusiasmarem-se pela ciência e perceberem como a ciência pode responder de forma maravilhosamente criativa e prática às coisas do dia-a-dia. Um dos principais objetivos do programa "Ciência Aberta a Oeiras" é quebrar essa barreira e mostrar que a ciência está dentro de nós, fora de nós, para além de nós e que está acessível a todos, basta uma coisa: curiosidade.

 

Falou do programa "Ciência Aberta a Oeiras". Pode destacar mais algumas iniciativas que fazem parte da Estratégia Ciência e Tecnologia?

No programa "Ciência Aberta a Oeiras" posso destacar o Festival Internacional de Ciência, o FICA. Propomo-nos realizar um festival de ciência que esteja ao nível do que de melhor se faz no mundo e que possa ser uma referência no âmbito dos festivais de ciência. Queremos que seja um festival conhecido, com muita dinâmica e muita qualidade.  Queremos que o FICA convoque todo o sistema científico nacional: desde a Fundação para a Ciência e Tecnologia, o Ministério da Ciência, o Ministério do Ambiente e o Ministério da Educação e todas as empresas relevantes que desenvolvam atividades de ciência e desenvolvimento. Queremos congregar num festival, dirigido a todos, o ecossistema científico português, numa ótica de comunicação de ciência e disseminação da inovação. Não tenho dúvidas de que o Festival de Ciência de Oeiras, que decorrerá no início de abril de 2021, será um evento marcante no nosso país e vai entrar no calendário da atividade científica de Portugal. Fico muito feliz por este evento estar a ser organizado por uma autarquia local, o que vem reafirmar o papel decisivo que os municípios e as autarquias locais podem ter neste tipo de dinâmicas. O poder local, em Portugal, atingiu um patamar que vai além do desempenho das suas funções habituais e este festival virá contribuir também para essa afirmação.

Já no eixo da Inovação destacaria, por exemplo, um trabalho que estamos a fazer com algumas instituições – como o IGC e o ITQB – mas que vai ser alargado a outras entidades e que é o desenvolvimento de um gabinete de transferência de conhecimento e tecnologia. Este gabinete tem a denominação de InoValley. Associado a esse programa há um outro de financiamento de provas de conceito.

No capítulo da internacionalização, também podia destacar a parceria que estamos a estabelecer com o European Research Council, que todos os anos atribui bolsas de investigação aos melhores cientistas da Europa, em várias áreas do conhecimento. Nem todos os projetos submetidos e que têm uma boa avaliação obtêm financiamento. A estes projetos que ficam abaixo do nível de financiamento, mas que têm uma classificação muito boa, o nosso convite é o seguinte: venham para Oeiras, candidatem-se às nossas bolsas, porque nós financiamos.

Com este programa, estamos a projetar internacionalmente o nosso Município como um território interessante, relevante para vir fazer investigação nas nossas instituições, com bolsas garantidas, não pelo European Research Council, mas pela agenda estratégica de ciência do Município de Oeiras.

Ainda dentro do capítulo da internacionalização temos já um programa de sabáticas, que vai permitir a investigadores de todo o mundo fazer curtas estadias aqui em Oeiras, a trabalhar nas nossas instituições, nos nossos institutos e com as equipas que aqui estão.

 

E como surgiu o programa Startup Research?

É um programa que resulta da parceria entre o ITQB com a Nova Business School. Trata-se de uma pós-graduação, dirigida especificamente a cientistas, que trabalham na área da ciência fundamental, cujo objetivo é ajudá-los a identificarem valor económico no resultado da sua investigação e apoiá-los no desenvolvimento de uma ideia de negócio. É um programa muito bem-sucedido: estamos a garantir cerca de 15 bolsas anualmente, para um programa que tem cerca de 21/22 cientistas envolvidos em cada edição, e o Município de Oeiras é o principal "sponsor".

 

Quais são, na sua opinião, as vantagens competitivas de Oeiras para que esta estratégia resulte e Oeiras se possa afirmar como capital da inovação? O que tem de distintivo o concelho de Oeiras?

O Valley é um território de 45kms quadrados, pequeno, controlado, preparado para poder receber investimento, para receber instituições, habitação de qualidade, projetos educativos de excelência e isso gera as melhores condições para que esta estratégia tenha um bom resultado. Em Oeiras temos as empresas, as universidades e os institutos de investigação. Temos o Taguspark. Temos os parques empresariais Lagoas Parque, a Quinta da Fonte e o Arquiparque, mas existem projetos para se criarem outros novos parques, que serão qualitativamente muito diferentes. Esses novos parques vão mesclar no mesmo espaço as empresas, as unidades de habitação, os equipamentos culturais, os equipamentos desportivos, e, como tal, serão polos de vida e dinamismo, cheios de atividade e não serão apenas locais para trabalhar.

Vão também existir novas vias rodoviárias de distribuição do tráfego que vão melhorar a mobilidade no concelho, vamos ter novos eixos de transportes públicos – por exemplo, o metro de superfície – que vai atravessar uma parte do concelho a partir de Algés, Linda-a-Velha e Miraflores, descendo novamente a Algés. O SATUO vai finalmente arrancar e ser um meio de mobilidade limpa e sustentável para todas as pessoas que circulam entre uma ponta do concelho e a outra. As redes de canais pedocicláveis estão a avançar a grande ritmo e vão enxamear o concelho nos próximos anos. Os programas de habitação que estão a ser desenvolvidos – já não só os de habitação social – mas habitação para a classe média que precisa de acesso à habitação de qualidade, em espaço urbano de qualidade, a preços controlados, que possam pagar e lhes permita ter uma vida com qualidade.

Estamos também a fazer investimentos colossais na rede educativa, nas escolas, num programa de 30 milhões de euros que pretende ter, até 2025, todas as escolas novas. São 46 as escolas que nós temos na nossa rede pública, que juntam 20 mil alunos, 1900 professores. Tudo isto gera uma atmosfera de confiança, de solidez, que creio ser atrativa se devidamente comunicada para quem está atento.

 

A estratégia de Oeiras Ciência e Tecnologia 2025 implicou um esforço em termos de investimento? Qual o valor investido?

O município de Oeiras assume a responsabilidade de dar o primeiro passo no que diz respeito à alavancagem deste investimento e o Senhor Presidente da Câmara Municipal prometeu dedicar 1% do orçamento municipal para o financiamento anual desta estratégia. Um por cento poderá ser muito relativo, mas à data de hoje o orçamento anual de Oeiras ronda os 220 milhões de euros, o que significa que estamos a falar de um valor acima dos dois milhões de euros.

O objetivo é que à medida que esta agenda estratégica para a ciência se vai desenvolvendo fique menos dependente da disponibilidade financeira de 1% do orçamento municipal e seja cada vez mais dependente de outros financiamentos competitivos. Para isso, estamos a tratar da entidade que será a gestora desta agenda estratégica para a ciência. Ela será formada por muitas instituições privadas, algumas instituições públicas – incluindo a própria câmara – mas será uma entidade independente, guiada pela excelência científica, a quem competirá fazer a gestão desta agenda estratégica. A nossa expectativa é que, à medida que nos vamos aproximando de 2025, essa entidade se torne, do ponto de vista financeiro, progressivamente independente da própria Câmara Municipal.